De Minas ao Pará: o pão de queijo, o subdesenvolvimento e a corrupção

Se há uma coisa que não dá para negar é que os mineiros têm um charme único. E, sim, eu sou um desses mineiros, natural de Porteirinha, um pedaço de terra abençoado que fica no coração do Norte de Minas.
Por aqui, a fama dos mineiros é conhecida - de Janaúba a Jaíba, passando por Montes Claros, é fácil encontrar alguém que é quase uma “encarnação” de um mineiro típico: com sotaque, café forte e, claro, o bom e velho pão de queijo.
Mas o que muita gente não sabe é que, por mais que o Pará tenha seus encantos e seja um estado grandioso, a “mineiridade” está impregnada por aqui de uma forma inusitada. E é sobre isso, e um pouco mais, que vou falar nesta crônica.
Quando falo do Pará, logo me lembro da imensidão do nosso estado. Somos um estado continental, com uma cultura tão rica quanto a diversidade de nossa gente.
O Pará é aquele tipo de lugar que te conquista aos poucos, até que, de repente, você já está comendo açaí como se fosse um prato principal e achando que nenhum outro lugar no mundo tem aquele sabor.
Acontece que, mesmo com toda essa riqueza cultural, não podemos negar a sombra do subdesenvolvimento que, por vezes, parece teimar em nos acompanhar.
E é aqui que entra a parte interessante dessa história: em Parauapebas, por exemplo, temos um espelho da nossa relação com Minas Gerais.
E como não poderia deixar de ser, o Pará, em sua essência, ainda luta para alcançar o brilho que seus recursos naturais prometem, mas que, muitas vezes, não chegam ao seu destino devido a uma velha companheira: a corrupção.
Quando fui parar aqui, no Pará, a primeira sensação que tive foi o choque cultural. Mas, quem sou eu para dizer que não vale a pena?
Com o tempo, aprendi a amar a comida (ah, a comida...), as festas, e até o sotaque peculiar que carrega um pouco da musicalidade de nossa gente. Só quem já viu o “carimbó” em ação sabe do que estou falando.
Mas tem algo que eu nunca consegui deixar de sentir: o reflexo de Minas em muitos cantos daqui. A cidade de Parauapebas, por exemplo, é um retrato disso.
Minas e o Pará têm uma relação meio difícil de explicar, como um irmão mais velho que está sempre ali, mas nunca ajuda tanto quanto deveria.
Parauapebas, com toda sua mineração e riquezas naturais, mais parece uma versão mais jovem de cidades mineiras, mas com um tempero próprio - e, claro, uma pitada de mistério.
Falando em mistério, a corrupção aqui também faz parte da paisagem. Não é exagero dizer que a corrupção ainda é uma das grandes vilãs do nosso progresso. E o pior: ela se disfarça de “dificuldade de gestão” ou de “problemas financeiros”.
Afinal, como explicar tanta riqueza natural e, ao mesmo tempo, tanto atraso em serviços básicos como saúde, educação e infraestrutura?
O Pará tem tudo para ser o estado mais rico do Brasil - quem me conhece sabe que eu defendo isso de peito aberto.
Temos uma biodiversidade impressionante, uma agricultura que poderia ser muito mais potente e uma indústria que, se bem aproveitada, poderia colocar nosso estado no topo. Mas, em vez disso, parece que somos o prato do dia para os corruptos.
Hoje, quem chega ao Pará se depara com cidades como Marabá, Canaã dos Carajás, Tucuruí, e até mesmo Redenção, todas com potencial para transformar o estado em um verdadeiro gigante econômico.
Mas, ao mesmo tempo, não é difícil perceber que ainda somos reféns de um sistema que não tem pressa para mudar.
A mineração, que poderia ser a locomotiva do nosso desenvolvimento, muitas vezes se torna um peso, um símbolo de algo que vai além da exploração econômica.
A política local se mistura com as velhas práticas de sempre, e a população segue, na sua maioria, sem ver os frutos da abundância que nos rodeia.
Agora, claro, há uma beleza no Pará que é única. Quem já viu um pôr do sol na cidade de Tucuruí, com o reflexo das águas da represa, sabe do que estou falando.
E, ao contrário de Minas, o calor aqui não é só no clima, mas no espírito do povo, que continua acreditando que algo pode mudar, mesmo diante de tantos desafios.
E, sim, o pão de queijo que encontramos por aqui é, sem dúvida, um dos melhores do mundo. Mas, em alguns momentos, o sabor da nossa realidade é amargo, e não é tão fácil de engolir.
É complicado, não é? Temos tudo para ser o estado mais próspero, com uma população batalhadora e uma terra rica. Mas a corrupção, essa velha senhora que nunca morre, impede que a gente deslanche.
Enquanto isso, os mineiros de alma, como eu, tentam encontrar um equilíbrio entre o orgulho de nossas raízes e a frustração com a falta de progresso.
Como se fôssemos um grande pão de queijo, esperando ser assado e servido para o mundo, mas sempre ficando um pouco mais cru do que gostaríamos.
O grande dilema do Pará não é a falta de recursos, mas a falta de gestão e honestidade. A falta de vontade política para, de fato, dar um passo à frente.
É como se o estado estivesse sempre na expectativa de algo acontecer, mas sem as condições certas para isso. E, cá entre nós, se não fizermos algo para mudar isso, nosso potencial seguirá sendo uma promessa não cumprida.
Mas, mesmo assim, continuo acreditando no Pará. Não no Pará perfeito, sem problemas, mas no Pará que, com sua cultura rica, suas gentes, suas lutas e suas delícias - como o pão de queijo paraense - ainda tem muito a oferecer.
Não somos a versão mais desenvolvida do Brasil, mas somos, sem dúvida, um dos estados mais ricos do mundo em cultura, beleza e, com sorte, também em recursos naturais.
A mudança, porém, precisa vir de dentro, e é essa a maior lição que eu, um mineiro no Pará, aprendi: a verdadeira riqueza está em como usamos o que temos para transformar o futuro.
Qual é a sua reação?






