Norte de Minas: celeiro cultural

Na coluna Serrando Geral, Marcão Leal escreve crônicas sobre assuntos do cotidiano da Serra Geral e do Norte de MInas

Dez 17, 2024 - 11:07
Dez 17, 2024 - 11:29
Norte de Minas: celeiro cultural

O mundo está descobrindo que o Norte de Minas existe de fato. Ou seria Serra Geral? E tem dado a sua contribuição para o estado e por consequência para o Brasil, assim como já foi descrito por caricaturistas e chargistas de plantão: se o Triângulo Mineiro é o nariz de Minas, pela localização geográfica de uma cabeça, nós somos o cérebro cultural de Minas e tenho dito. 

Matias Cardoso foi reconhecida como a 1ª cidade mineira onde se exerceu uma atividade econômica pautável, a criação de gado leiteiro, tirando de Mariana o título, pela extração de ouro.

Mesmo que se continue comemorando em Mariana, o “Dia de Minas”, em Matias Cardoso, se comemorou o “Dia das Gerais”.

São muitos os caminhos de Minas, muitas são as importantes contribuições e achados culturais, advindas de séculos de história, emanadas de pequenas vilas, fazendas, distritos, quilombos, comunidades rurais, que se iluminavam com seus filhos ilustres, desprovidos de estudos e recursos financeiros, mas abrilhantados por conhecimentos culturais apoteóticos e ruandeiros (colhidos nas ruas, como se colhem jabuticabas) e saboreados ao léu, sem intenção de repartir ou doar a quem quer que seja; uma instrução roubada da cultura popular e de raiz, um aprendizado que transformou o matuto em poeta, o poeta em cantor e enriqueceu o palavreado semântico regional, causando desgosto e pesar aos invejosos.

As lamurias e os desalentos de nossos artistas, atores, cancioneiros e compositores, mesmo perpetuados de talento e de qualidade, aprofundaram o abismo entre o criar e o apresentar, tripudiados e vencidos pelo fator tecnológico e econômico, vitimados pela degradante alcunha “Sobreviver da cultura”, alguns poucos, enfim, sobreviveram, mas, a grande maioria, não deixou pedra sobre pedra e levou na marra a vida entre letras, violas e canções. 

Vamos citar alguns artistas, grupos e bandas da nossa região e cada um  que faça a sua própria caracterização de sucesso repentino ou duradouro, da saudade de alguns ou de simples lembrança de muitos: Grupo Aroeira, Grupo Raízes, Godofredo e Beto Guedes, Cícero Billy Alves, Amelinda Chaves, Tom Andrade, Téo Azevedo, Pedro Boi, Tino Gomes, Argentino Barbosa, Jackson Antunes, Decão, João Mário Bhá, Donato Durães, Guiomar Alcântara, Grupo de Dança do Pote do Jacarezinho, Grupo de Reisado e caboclinho, isso citando a cultura de apenas duas cidades, Montes Claros e Janaúba, e com certeza, esquecendo de inúmeros nomes e grifes. 

São tantos os caminhos trilhados, que nem a maior das curiosidades consegue alcançar. São encruzilhadas culturais lavadas de preconceitos e sem espaço em grandes teatros, uma cultura que agoniza e pede socorro, socorro aos governantes (Lei Rouanet, será?), aos patrocinadores, aos amantes, a quem paga o ingresso e socorro a quem apenas admira.

Essas manifestações artísticas se equilibram e se sustentam ainda, diante da sabedoria do povo norte mineiro, que mistura essas raízes culturais, com artesanatos de barro, couro e da bananeira, da confecção das blusas gorutubana, orgulho da cultura local e com as comidas típicas regionais e o banho nas águas do rio gorutuba e tomar sol na praia do copo sujo.

São ações que fortalecem o laço afetivo e cultuadas pela admiração dos caboclos e que transformaram as festas populares como a festa do Pequi, o carnaval, a festa nacional da Banana, do umbu, exposições agropecuárias, Festa do Biscoito, Festa da Senhora Santana, São João Gorutubano, São Pedro no Pentáurea, Festival Internacional da Cachaça, festas onde se come carne de sol com mandioca, paçoca, arroz com pequi, biscoito espremido, beijú, frango caipira, se toma uma branquinha sem culpas ou preconceitos e se chupa umbu, cajá, manga, siriguela e tantas outras frutas que proclamam a cultura regional, como as festas mais belas do Brasil, uma cultura ascendente e pujante, com bagagem histórica e turística genuinamente norte mineira.

Uma vocação imbuída de algazarra silenciosamente religiosa e sem precedentes, que humildemente vem há séculos, reivindicando um lugar de polo cultural do Brasil, para esse pedacinho de Minas esquecido pela mídia e degradado pela seca galopante, mas que tem um povo hospitaleiro e movido por paixões, paixão pela arte e pela cultura popular.

* Marcão Leal é empresário do setor de comunicação em Janaúba

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