A grama do vizinho: o dilema da perfeição e a busca pela melhoria

opinião, Oelton Medeiros

Fev 11, 2025 - 11:24
A grama do vizinho: o dilema da perfeição e a busca pela melhoria

O mundo gira a uma velocidade frenética, e muitas vezes somos levados a acreditar que a perfeição é uma meta real e alcançável.

Ao longo do caminho, observamos os outros com um olhar curioso, quase invejoso, tentando entender como a grama do vizinho parece ser sempre mais verde.

Essa busca incessante pelaquilo que parece ideal nos conduz a comparações constantes e, por vezes, nos esquecemos de olhar para os próprios jardins, que, por mais imperfeitos que sejam, também merecem cuidado e atenção.

Em 2014, ao refletir sobre as instituições e suas falhas, bem como sobre a situação do CREA/MG e do CREA/PA, uma constatação se impôs: "nem tudo pode ser perfeito". E, talvez, esse seja o primeiro passo para construir algo realmente bom.

Recentemente, estive em Belo Horizonte, onde, além de enfrentar uma verdadeira maratona de exames para conseguir minha certificação, fui também à câmara de engenharia civil na regional CREA/MG.

Esse foi o momento em que, ao observar as diferenças entre os sistemas, as instituições e até mesmo as práticas cotidianas, percebi que a comparação é inevitável, mas nem sempre justa.

A sensação de que sempre há algo melhor nos outros nos acompanha em vários momentos da vida. E essa percepção, que por vezes parece algo inofensivo, pode trazer à tona questões muito mais profundas e críticas sobre como nos relacionamos com o mundo à nossa volta, especialmente quando se trata de um ambiente profissional, como o CREA.

Você provavelmente já ouviu a frase “a grama do vizinho é sempre mais verde”, não é mesmo? Ela sintetiza muito bem o comportamento humano: vivemos em constante comparação, como se o sucesso e as conquistas de outros fossem mais significativos que os nossos próprios.

No meu caso, ao visitar o CREA/MG, fiquei refletindo sobre o quanto a nossa realidade, no CREA/PA, é diferente.

E é aí que entra a crítica que preciso fazer: em Marabá, a realidade das instituições, no que diz respeito à tecnologia e inovação, ainda está distante daquilo que se vê em Minas Gerais.

Ao observar o trabalho dos auxiliares técnicos e agentes de fiscalização no CREA/PA, fiquei pensando sobre a evolução que ainda precisa acontecer em diversos aspectos do nosso dia a dia. Não que sejamos deficientes em capacidade, muito pelo contrário.

Somos, como disse um colega, "verdadeiros Severinos", ou seja, sabemos de tudo um pouco. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, isso não nos impede de aprender e melhorar.

Na verdade, é justamente esse espírito de constante evolução que precisa ser cultivado em nossas instituições.

A realidade no CREA/PA, especialmente na Inspetoria de Xinguara, tem sido de desafios. Trabalhamos com o que temos e buscamos, ao máximo, melhorar a eficiência e a qualidade do nosso atendimento.

No entanto, ao contrastar essa realidade com o que observei em Belo Horizonte, fica claro que há muito espaço para crescer.

Se o nosso vizinho está fazendo um bom trabalho, por que não podemos aprender com isso? Se as instituições de outras regiões estão mais à frente, por que não buscar implementar melhorias para que nossa "grama" também se torne mais verde?

Ao refletir sobre essas diferenças, vejo que a verdadeira questão não está em julgar o trabalho dos outros, mas em entender que todos temos falhas e virtudes. Sim, as instituições e as pessoas estão longe de serem perfeitas.

Como bem destacou Dom Walmar Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, “há rombos nas instituições, nas empresas, nas igrejas, nas famílias, nas organizações, na política e no coração das pessoas”.

E talvez a verdadeira perfeição não seja alcançar uma imagem idealizada, mas, sim, buscar a melhoria constante, dentro de nossas possibilidades e limitações.

Além disso, o que realmente importa não são os recursos ou a tecnologia avançada, mas sim os valores que cultivamos no coração.

A ética, a justiça, a paz e a honestidade precisam ser as guias de nossas ações. É com esses valores que podemos, de fato, transformar nossa realidade, mesmo quando ela parece estar longe do ideal.

É hora de abandonar o julgamento da grama alheia e focar no cultivo do nosso próprio jardim. Ao final, a perfeição não existe.

O que podemos alcançar é a constante evolução, a busca por melhorias dentro de um contexto onde a ética e a humanidade prevalecem.

O melhor de tudo é que, em vez de desejar um "feliz ano novo" para os outros, podemos construir um novo ciclo de realizações, melhorias e transformações juntos.

Vamos, então, cultivar o que é realmente importante: a honestidade em nossas atitudes, a coragem de mudar o que está errado e o compromisso de fazer do nosso mundo, da nossa realidade, um lugar mais justo e digno para todos.

* Oelton Medeiros reside em Marabá (PA). É pedagogo, escritor, poeta, técnico em edificações, eletrotécnico, acadêmico em Engenharia Civil e agente fiscal do CREA/PA

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