A toalha que não caía - reflexões de uma sexta-feira de mudança

Quem nunca se pegou em uma tarde qualquer, olhando para a vida e pensando: “O que realmente importa?”
Ou melhor, quantas vezes a gente passa a vida correndo atrás de coisas que, no fundo, não têm o peso que acreditamos ter? Nessa crônica, trago uma história que poderia ser a sua, a minha ou de qualquer um.
Uma história que começa numa sexta-feira comum e se transforma em uma reflexão profunda sobre o que estamos realmente buscando na vida. Mas, acredite, ela começa com algo bem simples: uma amiga, um TCC antigo e a famosa decisão de jogar a toalha.
Era uma manhã de sexta-feira, como tantas outras, mas algo naquela conversa se destacou. Na sala de trabalho, entre cafés e papos sobre as obrigações do dia, uma amiga nossa, com uma sinceridade que foi quase um choque, soltou uma reflexão que calou todos ali.
Para ela, o mundo, com todo o seu caos, não tinha mais a importância que outrora teve. “Nada mais importa”, disse ela, com um olhar profundo, como se tivesse descoberto o grande segredo da vida.
Para essa amiga, coisas como dinheiro, status e até promoções no trabalho haviam perdido o valor diante do que agora se mostrava essencial: cuidar dos filhos e da vida espiritual.
Era um assunto leve no começo, mas a forma como ela falou daquilo foi um divisor de águas. De repente, aquela simples frase parecia dar um nó em cada um de nós.
Não era sobre desistir de viver bem, mas sobre redirecionar o foco. E ali, entre sorrisos e olhares curiosos, todos nós começamos a questionar o que de fato importava naquele momento.
Eu, que estava ali como um espectador mais atento, não pude deixar de me lembrar de 2017, quando terminei o meu TCC.
Uma época em que acreditava que alcançar certos marcos profissionais e pessoais era o grande objetivo da vida. No entanto, ao reler aquelas páginas, percebi que, como diria meu avô, “nada disso ia me levar a lugar nenhum” – e ele estava certo.
Aquela ansiedade por algo maior, por ser mais, por conquistar, por vencer... tudo parecia agora um jogo de fichas. Talvez eu já tivesse conquistado o suficiente, e talvez a vida estivesse me dizendo que era hora de mudar de rota.
A conversa da minha amiga ecoava em minha mente enquanto eu pensava na minha filha, ainda cheia de perguntas e caminhos por descobrir.
Eu ainda precisava ajudá-la, orientá-la, prepará-la para o que viria. Mas, ao mesmo tempo, a vida me cobrava algo mais profundo: a saúde, a paz de espírito, e os netos. É isso mesmo, netos!
O que mais importa, agora, era viver em abundância com eles, aproveitar o que a vida ainda tinha de melhor, sem me perder na ilusão de que o trabalho, o sucesso e a fama seriam as únicas coisas que valiam a pena.
Aquela manhã de sexta-feira trouxe uma verdadeira revolução para a minha mente. Quantas vezes nos afundamos em tarefas e responsabilidades que, no final, não fazem a mínima diferença?
Achamos que estamos conquistando algo grandioso, mas a vida, com sua simplicidade, nos ensina que o que realmente conta é o carinho, o tempo de qualidade com a família e a serenidade com os próprios sentimentos.
O trabalho vai, o dinheiro vem e vai, mas a paz de espírito e os momentos com os entes queridos são os bens mais preciosos que podemos cultivar.
Meu trabalho, minha carreira e os objetivos profissionais já cumpriram seus papéis. Agora, era hora de entregar mais atenção à minha saúde, à família e ao que chamamos de “vida plena”. Como dizia minha amiga, “o resto, que se dane”.
E foi assim que decidi seguir o exemplo da minha amiga. Não foi uma decisão fácil, mas foi uma decisão libertadora.
Com um sorriso no rosto, decidi que, a partir daquele dia, o que realmente importaria seria minha filha, minha saúde e meus netos.
O resto que se dane – e não, não é um convite à irresponsabilidade, mas um chamado para reavaliarmos o que realmente traz felicidade.
E a você, que está lendo essa crônica, eu digo: faça o mesmo! Dê uma pausa. Respire fundo. Olhe para o que você tem de mais valioso e faça uma escolha. Às vezes, jogar a toalha pode ser a melhor jogada que você faz para redescobrir o que realmente importa.
E, cá entre nós, viver bem é sempre mais importante que viver correndo atrás de coisas que nunca vão preencher o vazio que só o tempo e os afetos podem curar.
* Oelton Medeiros residente em Marabá (PA). É pedagogo, escritor, poeta, técnico em edificações, eletrotécnico, acadêmico em Engenharia Civil e agente fiscal do
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