Não reprima a vontade de rir: o perigo de pagar o mal com o mal

Há um ditado popular que diz que o mundo não é para amadores. E, se pensarmos bem, quem já passou por uma dessas situações absurdas do cotidiano, onde tudo parece conspirar contra nós, vai entender que, de fato, ele não é.
Em algum momento da vida, todos nós já fomos vítimas de algum tipo de injustiça, seja no trânsito, na fila do banco, ou até mesmo nas relações mais íntimas e de trabalho.
E é justamente nessa hora que entra a tentação de retribuir o mal com o mal. Afinal, quem nunca teve aquela vontade de dar o troco na mesma moeda?
Porém, quando refletimos sobre o impacto que isso pode ter, a verdade começa a ser mais clara do que imaginamos: quem retribui a dor, acaba sofrendo ainda mais.
E aí, meu amigo, o que fazer? O segredo está em algo que, ao primeiro olhar, pode parecer difícil de engolir: o perdão.
Hoje, a vida moderna nos apresenta uma infinidade de situações onde o mal e a injustiça se disfarçam em simples contratempos do cotidiano.
E em meio a tantos pequenos golpes, vem a famosa pergunta: devemos revidar? Quantos de nós já não experimentamos a amarga sensação de ser roubado, traído ou simplesmente ignorado?
O pior, muitas vezes, não é o ato em si, mas o sentimento de impotência que ele gera. E se há algo que nunca nos falta nesses momentos é a tentação de fazer justiça com as próprias mãos, retribuindo o mal com a mesma moeda.
Só que, se for analisar com calma, vemos que a solução para a dor não está em dar o troco, mas em adotar uma postura mais sábia e serena.
Lembro de uma série de situações que passaram pela minha vida, todas marcadas pela mesma ideia de um mundo injusto e difícil de se entender.
O primeiro roubo que experimentei aconteceu no metrô de São Paulo, uma daquelas cenas rápidas e furtivas, em que o ladrão desaparece antes mesmo de você perceber o que aconteceu.
Depois, foi na Avenida do Estado, também em São Paulo, em que, ao tentar corrigir um erro administrativo, me vi sendo enganado de forma tão descarada que até hoje não sei se devo rir ou chorar.
E não paro por aí, minha lista de "victimário" só aumentou. Tive minha carga de cabotiá roubada em Montes Claros, fui surpreendido no Ceasa do Rio de Janeiro, passei pela Avenida Brasil, e, em Janaúba, em Lagarto, em Sergipe, e até em Marabá, a terra dos minérios.
O mais engraçado - ou trágico, vai saber - é que em todos esses roubos, fosse de valores ou de pequenos pertences, a sensação de impotência e frustração sempre era a mesma.
Mas o pior de todos os golpes que levei, sem dúvida, veio disfarçado de confiança: o que me traiu foi um colega de trabalho. Um falso amigo, daqueles que nos fazem acreditar que somos especiais até que, de repente, o jogo vira e somos apenas mais um peão no tabuleiro.
E aí, o que fazer diante disso tudo? Descer à mesma altura? Rir da situação? Sentir-se vítima? Não sei se as palavras de Rui Barbosa - "O maior ladrão é aquele que não toma a decisão de ser do bem" - são a solução, mas elas estão bem presentes em meu pensamento.
Em um mundo onde, muitas vezes, o maior ladrão é o gestor e o maior "herói" é quem souber manipular a situação, é difícil não se perder. Mas mesmo assim, algo em mim sempre me dizia para resistir à tentação de retribuir com mais maldade.
Frei Gilson, sempre com sua calma e sabedoria, afirma que quem não segue o caminho do perdão, acaba se aprisionando em um ciclo de dor. Isso é, sem dúvida, verdade.
A sensação de vingança, por mais prazerosa que seja a princípio, acaba nos afligindo de formas que nem imaginamos.
É como se, ao tentar machucar quem nos machucou, fizéssemos um buraco tão fundo que acabamos caindo nele também.
É uma armadilha psicológica que todos nós, em algum momento, caímos. Contudo, a verdadeira liberdade vem quando conseguimos olhar para essas situações com serenidade e buscar o perdão, mesmo sem saber ao certo se ele será retribuído.
O engraçado - ao mesmo tempo trágico - é que a vida nos ensina, de forma dura, que as situações são muito mais simples do que imaginamos.
No fundo, a verdadeira vingança, a mais poderosa, está em seguir o caminho do bem, sem se deixar corromper pelas adversidades. Em não ceder à tentação de retribuir o mal, mas sim, quebrar o ciclo com o perdão e a reflexão.
Ao refletir sobre todas essas experiências, percebo que o perdão é, na verdade, um ato de coragem. A coragem de seguir um caminho mais difícil, mas que nos leva a uma paz mais profunda.
Ao invés de alimentar a raiva e a frustração, ao invés de pagar o mal com o mal, somos chamados a construir uma vida mais leve, mais sábia.
E sim, é difícil, quase impossível em algumas situações. Mas como diz o velho ditado: "quem perdoa, liberta-se". Afinal, quem vai se sentir melhor? Quem guardou rancor ou quem escolheu o perdão?
Agora, quando olho para todos aqueles momentos em que fui roubado, traído ou enganado, percebo que a verdadeira perda não está nos objetos, mas na minha paz de espírito.
E, sinceramente, ninguém vale a pena o suficiente para me tirar essa paz. O segredo, talvez, seja entender que, no fim das contas, a única coisa que realmente podemos controlar é a nossa reação diante dos desafios da vida.
* Oelton Medeiros residente em Marabá (PA). É pedagogo, escritor, poeta, técnico em edificações, eletrotécnico, acadêmico em Engenharia Civil e agente fiscal do
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