Porteirinha: de passagem de tropeiros à capital do queijo (e do requeijão moreno!)

Mar 26, 2025 - 11:53
Porteirinha: de passagem de tropeiros à capital do queijo (e do requeijão moreno!)

Nasci em Porteirinha, mais precisamente no distrito de Gorutuba/Bom Jesus, nas terras que eram do meu avô Pedro Medeiros.

Ali, onde hoje está a Uvale - gigante brasileira na produção e distribuição de frutas tropicais, como a suculenta manga Palmer, o Mamão Formosa e a banana, que faz o café da manhã mais feliz.

Pois é, sou porteirinhense, e como todo bom nativo, já me peguei pensando: por que diabos esse lugar tem esse nome?

A resposta, meus amigos, é mais bucólica do que parece. O nome vem de uma característica geográfica peculiar: uma passagem estreita entre altos troncos na entrada norte da região, que lembrava uma porteira natural.

Os tropeiros, cansados da viagem, ao chegarem ali diziam algo como: "Olha aí, uma porteirinha!" E o nome pegou. Simples assim. Nada de rei, bandeirante ou santo. Apenas uma clareira e a poesia da oralidade popular.

Agora, corte para 42 anos depois. Estou eu, já marabaense de adoção, rolando o feed do Instagram quando me deparo com a seguinte manchete: "Nesta quarta-feira, 19 de março de 2025, Porteirinha será reconhecida como a Capital Mineira do Queijo e do Requeijão Moreno!".

O Projeto de Lei nº 1.035/2023 foi aprovado e, pronto, um título digno de ostentação. Afinal, queijo e requeijão são praticamente patrimônio afetivo do mineiro.

Se pão de queijo já é unanimidade, imagina um requeijão moreno bem quentinho, derretendo em cima de um pão fresquinho? Dá até vontade de mudar de CEP.

Foi só ler a notícia que um vendaval de lembranças invadiu minha mente. O Mercado Municipal de Porteirinha, com suas banquinhas de frutas, queijos, doces, vinhos, peixes, especiarias, castanhas e frutos do mar.

Ali você pode provar de tudo – sim, degustação liberada! – e, se gostar, levar a quantidade que seu estômago permitir.

É um pedacinho do paraíso para qualquer um que tenha um mínimo de apreço por comida boa e autêntica.

E não para por aí. Outro tesouro da região é a Cachoeira do Serrado, com suas sete quedas deslumbrantes.

Um verdadeiro convite para a prática de esportes e para aqueles que, como eu, ainda não tiveram a oportunidade de conhecer, mas mantêm a promessa de um dia se jogar naquelas águas refrescantes.

O mais interessante de tudo isso é perceber como a identidade cultural e gastronômica de uma cidade pode se tornar um motor econômico.

O reconhecimento de Porteirinha como a Capital Mineira do Queijo e do Requeijão Moreno é uma prova de que tradição e desenvolvimento podem andar de mãos dadas.

E isso me leva a um pensamento inquietante: por que Marabá e outras cidades do Pará não fazem o mesmo?

Temos o açaí, o cupuaçu, o tucupi, o jambu… Produtos icônicos, amados, desejados por gente do mundo inteiro.

Falta só o empurrão certo, a mobilização e, claro, um tiquinho de vontade política. Porque se um punhado de tropeiros deu nome a uma cidade, imagine o que uma boa ideia e um projeto bem elaborado podem fazer por um estado inteiro!

Quem sabe daqui a alguns anos, eu não esteja escrevendo sobre Marabá sendo reconhecida como a Capital Paraense do Açaí, do Cupuaçu e de Tudo Que É Bom?

Se acontecer, já aviso: quero minha fatia desse bolo – ou melhor, minha cuia de açaí bem gelada! E o melhor requeijão do mundo.

* Oelton Medeiros residente em Marabá (PA). É pedagogo, escritor, poeta, técnico em edificações, eletrotécnico, acadêmico em Engenharia Civil e agente fiscal do CREA/PA

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