Um pinto ciscando no lixo
Na coluna Serrando Geral, Marcão Leal escreve crônicas sobre assuntos do cotidiano da Serra Geral e do Norte de Minas

Sem fazer muito barulho, ou pouco caso dos adversários que passaram pelo meu caminho e foram muitos, nessa trajetória de mais de 45 anos de futebol e tantos outros esportes, acho que seria um gol contra não citar aqueles que valorizaram as minhas conquistas...
Por tantos caminhos que trilhei, em tantos campos que joguei, quero destacar, o primeiro de terra, o velho campo do Olaria, cercado por tantas escavações, que mais parecia a face da lua, onde iniciei aos 16 anos e tinha como companheiros de equipe os veteranos Balaio, Rui, Lucas, João Guache e tantos outros que não consigo mais me lembrar, mas que foram importantes e fizeram parte dessa história, tendo ainda, o Olaria, com as cores verde branco, já que anos depois, passamos a ostentar o rubro-negro de tantas glorias.
Foi assim, diante de muitos obstáculos, terra batida e buracos, que entrei na minha primeira decisão, uma decisão, de uma trajetória incrível, já que misturava, futebol com atletismo e dedicava muito mais tempo ao meu esporte favorito, competindo nos 100 e 200 mts rasos, por Janaúba e por Minas Gerais.
Só ganhei o meu primeiro título pelo amador, com o Juventude E. Clube, já em 79 e logo depois, jogando pelo E.C. Juventus, um campeonato que marcou a minha trajetória, marquei o gol do título, mas não pude comemorar, já que ao cabecear a bola do gol, numa falta batida pelo famoso Esquerdinha, ex-profissional do Bahia (que tinha uma verdadeira bomba na perna esquerda), com a bola molhada de chuva e empapada de terra do campo mineirinho, perdi os sentidos e só recobrei a memória, muitas horas depois e fiquei então sabendo, que havia feito o gol da vitória.
Lembro bem, do saudoso Sr. Alfredo, presidente do Juventus, me dizendo, acorda menino, o gol da vitória foi seu.
Com o Olaria, vencemos dois títulos e perdemos uma decisão, dolorida, onde perdi um pênalti e poderia ter sido o artilheiro e campeão, mas quis o destino, que depois dessa final, ficaria 15 anos, sem bater pênaltis, traumatizado e envergonhado com a derrota, por minha causa.
Passei depois pelo Corinthians de Walber (Bola) e Portuguesa de Edson e voltei a disputar e ganhar títulos, nos clubes sociais da vida. Campeonatos do trabalhador em 1º de maio, sempre para veteranos acima de 35 anos, foram muitas disputas e títulos, por quase todos os clubes de Janaúba: Tupi, Serrano, Caiçara e ABIP, sempre carregando a responsabilidade de fazer gols e não decepcionava meus pares...
Nos campeonatos internos dos clubes, fui acumulando decisões e títulos, no Caiçara, chegamos a várias decisões e muitos títulos e outras tantas artilharias, mas, me lembro bem, de um título marcante no ABIP, onde, depois de um empate por 2x2, entre as equipes da Casa Bella e Arroz Rosalvo, tive que voltar a bater um pênalti, depois de 15 anos, já que todos já haviam batido e permanecia empatada a partida...
O espaço que deveria percorrer, entre o meio campo e a marca do pênalti, se tornou o mais longo percurso já feito por mim, em toda a minha trajetória desportiva...
O locutor Pedro Wilson que narrava a partida, teimava em lembrar, do pênalti perdido na decisão do amador há 15 anos e só restou para mim a desolação e que de antemão, já sabia que perderia a disputava mais uma vez.
Ao chegar na marca do pênalti, o nosso goleiro Marquinhos me falou a frase, que não esqueço jamais: “faz o gol, que eu pego o pênalti deles” e uma centelha se acendeu em mim e me tornei supremo e imbatível naquele momento e com os olhos fechados, depois da batida, só senti os abraços dos companheiros e quando o nosso goleiro defendeu o pênalti, a comemoração foi intensa e com travessia do campo, de joelhos pagando a promessa feita.
Tudo isso culminou no domingo, 15 de dezembro de 2024, com a 28ª decisão e o 18º título, com mais de 20 artilharias, com muita persistência e garra, nas categorias titular e depois cascudinho, passando quase sem perceber pelo cascudo, por causa da gana, de querer jogar e ajudar todas as categorias.
Um verdadeiro suplicio de amores, mas, futebol para mim é isso. A alegria de um pinto ciscando no lixo. Inexplicável, pela dor que carrego.
* Marcão Leal é empresário do setor de comunicação em Janaúba
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